terça-feira, 22 de junho de 2010

Valsa Lenta...

VALSA LENTA

Se todas as horas eu vivesse em doce tranquilidade
e a minha alma transbordasse pelas coisas simples.
Se os meus caminhos fossem direitos
e as minhas ambições somente humanas.
Se dentro de mim houvesse conformação.
Se dentro de mim ecoassem serenos Nocturnos de Chopin.

Se eu te recordasse em brisas de calmaria,
se olhasse as crianças sem reviver a infância,
se olhasse a juventude sem atear o braseiro dos sonhos.
Se olhasse o passado sem vendavais bravios de saudade.

Tudo seria melhor, mais fácil, mais feliz.
Mais calmo, mais cordato, mais normal.
Como a família gosta, como os amigos recomendam.

Estaríamos todos sentados em sofás confortáveis,
as mãos no regaço,
os olhos mortiços,
a conversa morta.
A olhar, a ver, a viver, a telenovela das oito.

Mas nada disso cabe no meu eu. Que querem?
Cada eu é um eu. Diferente, único, definido.
E eu sou eu, assim.
Por ser assim, e só por ser assim, vos amei tanto.
Vos dei sempre tudo. Sem conta, sem medida, sem anotação.
Vos dei tudo, tudo. As esperas, os risos,
a desilusão, as lágrimas.
A longa agonia dos tempos sem sentido.

Hoje, tento recompor o meu ser como um puzzle.
De peças velhas, pisadas, partidas, esquecidas.
Deixadas ao longo de caminhos tão distantes.

Hoje, espreito na janela da minha inquietude
a tua recordação.
As tuas mãos que já não lembro.
Os teus olhos de cor perdida na passagem do tempo.
E parece-me ouvir o meu coração.
Em batida descompassada, desregulada, enfraquecida.

O meu coração igual.
Intacto.

Na sua forma de amar,
de se dar,
de se preencher,
de se repartir.