sexta-feira, 29 de julho de 2016

Bairro Ocidental (excerto)

Na Eurolândia tudo é permitido
bruxela-se um país berlina-se outro
um dia ao acordares estás eurodido
e o teu país efemizado é só um couto.

Não digas pátria; essa palavra está malvista
proibida pelo Império Orçamental.
Eurogrupado: tu e os maus da fita
filhos do Sul e do pecado original.

Lá vem a Nau Catrineta e o capitão-general 

- Manuel Alegre

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sentada na Areia...

Um pôr-do-sol.
Uma onda quebrada na espuma.
Um cisne branco feito nuvem,
A dançar no céu azul,
Em silêncio.

Pensamentos.
Segredos.
Sonhos.
Lendas.
Lágrimas.
Gargalhadas.
Um café.
Um cigarro.
O voo de uma gaivota.

E tu, meu amor, tão perto
Aqui dentro de mim.
E tu, meu amor, tão longe
Destas minhas mãos vazias,
Que te estendo.

Nesses olhos de mar,
De lago.
Nesses olhos de água
Em que te vejo.
Tudo isto caberia,
Cresceria,
Viveria.

Por andas, amor louco,
Que assim te perco,
Um pouco mais todos os dias?

Jenny Lopes
1993

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Regresso...

REGRESSO

Virás buscar-me numa manhã de Junho.
Todos os poetas querem regressar no mês de Junho.

Talvez nem seja necessário vires buscar-me.
O caminho do regresso, logo que pressentido,
É fácil de encontrar.

Vencidos ficam os medos, os cansaços, a solidão.
Mortos, sem apelo, ficam os ódios, as maldades.
Nos caminhos do regresso não há lágrimas.

Os caminhos do regresso São feitos de cascatas de águas límpidas.
De planícies verdes,
De montanhas cumeadas de neve.
De brisas perfumadas de flores.

De papoilas que acenam a cada passo em frente.

Os caminhos do regresso chamam-me.
Eu vou. Seguirei tranquila, esperançada.
Numa manhã clara e luminosa do mês de Junho.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Valsa Lenta...

VALSA LENTA

Se todas as horas eu vivesse em doce tranquilidade
e a minha alma transbordasse pelas coisas simples.
Se os meus caminhos fossem direitos
e as minhas ambições somente humanas.
Se dentro de mim houvesse conformação.
Se dentro de mim ecoassem serenos Nocturnos de Chopin.

Se eu te recordasse em brisas de calmaria,
se olhasse as crianças sem reviver a infância,
se olhasse a juventude sem atear o braseiro dos sonhos.
Se olhasse o passado sem vendavais bravios de saudade.

Tudo seria melhor, mais fácil, mais feliz.
Mais calmo, mais cordato, mais normal.
Como a família gosta, como os amigos recomendam.

Estaríamos todos sentados em sofás confortáveis,
as mãos no regaço,
os olhos mortiços,
a conversa morta.
A olhar, a ver, a viver, a telenovela das oito.

Mas nada disso cabe no meu eu. Que querem?
Cada eu é um eu. Diferente, único, definido.
E eu sou eu, assim.
Por ser assim, e só por ser assim, vos amei tanto.
Vos dei sempre tudo. Sem conta, sem medida, sem anotação.
Vos dei tudo, tudo. As esperas, os risos,
a desilusão, as lágrimas.
A longa agonia dos tempos sem sentido.

Hoje, tento recompor o meu ser como um puzzle.
De peças velhas, pisadas, partidas, esquecidas.
Deixadas ao longo de caminhos tão distantes.

Hoje, espreito na janela da minha inquietude
a tua recordação.
As tuas mãos que já não lembro.
Os teus olhos de cor perdida na passagem do tempo.
E parece-me ouvir o meu coração.
Em batida descompassada, desregulada, enfraquecida.

O meu coração igual.
Intacto.

Na sua forma de amar,
de se dar,
de se preencher,
de se repartir.

sábado, 22 de maio de 2010

TURBILHÃO

Tu ontem, eu hoje,
nós sempre.

Eu nuvem, tu gaivota,
nós ceu aberto.

Tu onda, eu batel,
nós mar alto.

Tu sangue, eu carne,
nós paixão.

Tu madrugada, eu canção,
nós Poesia.

Eu chuva, tu orvalho,
nós procela.

Tu sombra, eu sol,
nós deserto.

Tu inverno, eu outono,
nós solidão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

INSCRIÇÃO

MAIS UM POEMA DE SOPHIA

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.

ATLÂNTICO

UM POEMA DE SOPHIA


Mar.

Metade da minha alma é feita de maresia.